sábado, 31 de outubro de 2015

"Como um rio correndo para o mar"




Não fora fácil deixar a sua casa de longos anos, onde memórias de muito tempo vivido ficaram para trás. Fora ali que criara os seus filhos, vivera duas relações que lhe deram três filhos lindos, mas a vida tinha que andar para a frente. A sua nova casa em terras dos nossos vizinhos, talvez fosse o fim de linha. “ Who knows?”.
Andreia procurava sair do stress em que andava a viver. Chegara a uma altura que sua vida não fazia sentido se não fosse no trabalho artístico, aquilo que realmente gostava e a fazia feliz. O trabalho de professora fora como uma forma de sobrevivência, um local, um sentido de responsabilidade, pois havia filhos para criar, e isso estava a frente de tudo. Agora que a vida estava mais estabilizada procurava realizar-se a ela própria. Havia muitas formas de o conseguir, mas achou que num lugar longe de tudo e de todas as suas relações passadas, talvez fosse a melhor opção.
Andreia, Jorge e a filhote dela, naquele momento formavam seu mundo, onde se conjugava toda a sua atividade artística. Acabaram os rodopios frenéticos da cidade, a escola e os alunos indisciplinados. Na sua nova casinha e na companhia de quem mais amava, parecia sentir-se feliz. Tudo parecia um sonho, um conto de fadas. Os habitantes da pequena aldeia eram simpáticos, apesar de estranhar no início aquela presença da família portuguesa. Mas como estavam acostumados a gentes dos dois lados da fronteira, foram-se habituando à sua presença.
Andreia, por vezes, falava com os anjos, tinha um sentido espiritual muito para além da religiosidade baseada no discurso dos sacerdotes. Havia um anjo que a acompanhava desde criança, um anjo chamado “Esperança”. Era como um desejo que se ia realizando a seus pedidos. “Esperança”, guiava num sentido da justiça social, de querer o bem em seu redor. Talvez esta forma espiritual que fazia dela nunca desistir dos seus sonhos, a tenha levado a encontrar o caminho que sempre desejara.
 
Página 26/27
Quito Arantes

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