O seu futuro era uma parte incerta, e outra
concreta nos seus escritos. Queria tornar-se um escritor de verdade, mas para
isso empenhou-se em ler, ler muito, principalmente autores portugueses de
referência. Havia uma vaga de novos autores que na realidade escreviam muito
bem, dentro do seu género. Francisco Moita Flores, José Luís Peixoto, ou Rosa
Lobato Faria, foram autores que ele me disse um dia, que adorou ler. Numa das
conversas que tivemos aquando dum fugidio encontro na cidade, ele foi-me
dizendo que não compreendia, agora, a pressa da vida da cidade. O fim será
sempre o mesmo, devagar ou de pressa, e quando estamos com pressa, não
apreciamos as pequenas coisas belas da vida. Questionei-o se ele não andava a
fugir de algo, num tom sereno, foi-me dizendo que a vida não se resumia a
aglomerados de pessoas, atarefadas, com medo de não chegarem a tempo dos seus
objetivos, como se o mundo fosse acabar para semana. Sentir o vento rasgar as
urzes, levar as folhas do outono, a chuva enchendo os regatos e por vezes a
neve criando mantos de uma brancura sem fim, era coisas que para ele tinham o
maior significado. A natureza no seu estado primitivo, quando abria a janela do
quarto, dava-lhe a sensação que tinha sido um privilégio a sua decisão de viver
no campo.
excerto, a publicar
by Quito Arantes
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